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Viver a Esperança
03rd May 2021
Era o primeiro dia de escola do meu filho mais velho. Ele estava animado e eu estava apavorada! Seria ele capaz de encontrar amigos, gostaria do seu professor (a), seria suficientemente inteligente para este 1º ano, teria medo? Eu segurei a sua mão durante todo o caminho até a escola (ele permitiu-me que o fizesse na época).
Eu abracei-o na porta de entrada da escola e enviei-o para todo um novo mundo - o mundo académico e das aprendizagens. Respirei fundo e uma lágrima desceu pela minha bochecha, o meu filho nem olhou para trás!
Dois anos depois, estamos numa escola diferente agora, uma escola nova e maior. O meu filho está tão animado e eu estou um pouco apavorada, mas nem tanto como na última vez, eu também cresci! Conhecemos a sua professora que parece ser bastante amigável e cheia de energia, eu gostei dela imediatamente.
Ofereci-me para ajudá-la de qualquer maneira que eu pudesse, ela agradeceu e deixei o meu filho aos seus cuidados. Vários meses depois, estou de volta à porta de sua sala de aula porque ouvi histórias relatadas pelo meu filho acerca de interrupções na sala de aula, crianças que estão a causar vários problemas e outras crianças que estão a ficar para trás nas suas aprendizagens.
Eu vou para a sala de aula porque estou preocupada com a situação. A professora abre a porta e eu já não vejo a professora simpática e cheia de energia e entusiasmo do primeiro dia de aulas. Vejo uma professora frustrada, exausta e preocupada que não sabe como dividir o seu tempo pelos 30 alunos com diferentes níveis de aprendizagem e em estádios diferentes de desenvolvimento. Alguns dos seus alunos, ela até teme, podem ser abusados ou negligenciados.
Ofereço-lhe a minha ajuda novamente, mas desta vez ela explica-me que tal não é possível. No nosso país não é permitido aos pais que estejam na sala de aula para ajudar. Ela chora, eu choro. Nenhuma de nós sabe o que fazer.
Ao sair da escola, vejo muitos dos colegas da turma do meu filho. Eu pergunto-me quais estarão a lutar com estas dificuldades. Eu pergunto-me quais serão as crianças, que nos próximos 5 ou 6 anos, vão eventualmente abandonar a escola, porque estão convencidas de que não conseguem acompanhar este ritmo.
Ou quantos serão convidados a sair porque não conseguem adaptar-se. Eu senti-me terrivelmente sem esperança naquele dia. Comecei a orar para que de alguma forma algo pudesse ser feito por estas crianças que também fosse uma ajuda e apoio para os professores. Eu não sabia por onde começar, então apenas orei.
A vida prosseguiu e os meus filhos já estão no 2º e 3º ciclo. Um amigo meu pede-me para assistir a uma apresentação acerca de um novo grupo a começar em Portugal, que visa ajudar crianças com dificuldades a processar as suas emoções para que possam ter uma melhor experiência na sala de aula e não abandonem a escola.
Fiquei intrigada. Naquela noite, ouvi atentamente acerca das estatísticas portugueses de casos de abandono, de crianças maltratadas, de professores dedicados e esforçados.
Assisti a um vídeo de 3 crianças que iniciaram o projeto que a Crescer com Amigos (CCA) tinha começado e as suas histórias de vida fizeram-me chorar! Isto era exatamente o que eu tinha estado à espera e a razão pela qual orei! Esta foi a resposta.
Eu assumi o compromisso de ajudar e apoiar a CCA de qualquer maneira que fosse necessária. Tornei-me presidente do Conselho de Administração e tive a honra de ver uma equipa crescente de funcionários e voluntários, de igrejas, empresas e indivíduos, avançar e intervir na vida das crianças para garantir que todas as crianças em Portugal sabem e sentem que não são esquecidas, ignoradas ou se encontram perdidas.
Através da generosidade em tempo e/ou suporte financeiro de todas estas pessoas, estamos a observar crianças, as suas famílias e os seus professores, a desenvolver um trabalho conjunto e a alcançar sucesso juntos.
Vimos crianças marginalizadas a aprender a fazer amigos; crianças desesperadas a aprender a se expressarem de uma maneira mais construtiva; crianças solitárias a entender que podem ter alguém com quem contar e que se irá encontrar com elas todas as semanas, durante uma hora.
Alguém só para elas, dedicado em exclusivo a cada uma delas e que acredita na sua possibilidade de alcançar sucesso no futuro.
É uma honra trabalhar com a CCA e encorajo todos a se envolvam, especialmente como Doadores de Esperança. Os Hope Givers (Doadores de Esperança) não oferecem apenas apoio financeiro para que a CCA alcance mais escolas e mais crianças.
Os Hope Givers realmente dão Esperança a uma geração que precisa de mais ajuda, do que nunca. As crianças podem nunca vir a saber o seu nome ou o meu, mas sentirão e vivenciarão a nossa Esperança nelas e por elas durante toda a vida.
- Connie Main Duarte