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Crianças e a Epidemia
27th May 2021
Desde dezembro de 2019, os sistemas de saúde em todo o mundo têm lutado com um número crescente de casos de uma síndrome respiratória viral que surgiu na China. A European Pediatric Association – Union of National European Pediatric Societies and Associations (EPA-UNEPSA) estabeleceu um grupo de trabalho colaborativo com as principais instituições acadêmicas chinesas e centros médicos com o objetivo de facilitar a troca recíproca de informações e compartilhar conhecimento científico.
O objetivo deste comentário do grupo de trabalho China-EPA-UNEPSA era o de aumentar a consciencialização acerca das necessidades psicológicas das crianças durante a epidemia e relatar os primeiros dados recolhidos nas áreas afetadas pelo COVID-19 na China durante o surto atual, enfatizando o papel das famílias e dos cuidadores, no reconhecimento e gestão atempada de emoções negativas.
A pandemia de COVID-19 foi rapidamente percebida em todo o mundo como uma grande ameaça à saúde e um perigo para a economia global, afetando a vida das pessoas ao influenciar seu comportamento diário e causando sentimentos de pânico, ansiedade, depressão e, muitas vezes, desencadeando um medo intenso.
A maioria das crianças infetadas tem manifestações clínicas leves, sem febre ou sintomas de pneumonia, e a maioria se recupera em 1-2 semanas após o início da doença. Poucas progridem para diminuir as infeções respiratórias. Embora as crianças pareçam ser menos vulneráveis ao COVID-19 do que os adultos, os relatórios recentes indicam que crianças e adolescentes foram afetados psicologicamente, manifestando problemas comportamentais. As crianças experimentam medos, incertezas e isolamento físico e social e ficaram sem aulas por um período prolongado. Compreender as suas reações e emoções é essencial para atender adequadamente às suas necessidades. O medo de perguntar sobre epidemias e a saúde de parentes, sono insatisfatório incluindo pesadelos, falta de apetite, desconforto físico, agitação e desatenção e problemas de separação estavam entre as principais condições psicológicas observadas.
O impacto do Covid-19 na saúde mental foi bastante acentuado, de acordo com o International Journal of Environmental Research and Public Health, 54% dos participantes de um estudo on-line classificaram o impacto da covid-19 na sua saúde mental com moderado a grave.
De acordo com o estudo Mental Health status among Children publicado no JAMA Pediatrics, 22,6% das crianças durante o período de confinamento relataram sintomas de depressão e 18,9% das crianças durante o período de confinamento relataram sintomas de ansiedade.
Um estudo acerca de behavioral and emotional disorders in Children during the covid-19 (publicado no The Journal of Pediatrics) refere que durante o confinamento 37% das crianças e adolescentes reportaram dificuldades de atenção e 32% reportaram sinais de irritabilidade. Acresce ainda que durante o confinamento 28% das crianças e adolescentes registaram diversas preocupações e 22% reportaram medo de perder um familiar. 22% assinalaram alterações no sono, 18% assinalaram diminuição de apetite e 17% das crianças e adolescentes, apresentaram sinais de fadiga.
A importância de nutrir a resiliência em crianças expostas a epidemias ou outro tipo de dificuldades
A resiliência, revelou-se fundamental nestes processos, pelo que mais uma vez fica clara a relevância da resiliência ter de ser nutrida e implementada através de programas com crianças e adolescentes que vivem em áreas atingidas por calamidades como é o exemplo desta epidemia. Se devidamente apoiados por profissionais de saúde, famílias e outro tipo de conexões sociais, incluindo no ambiente escolar, as crianças podem superar adequadamente uma condição de angústia e encontrar estabilidade emocional de forma muito positiva.
Parece-nos fulcral seguir uma estratégia de estimulação da resiliência em crianças e adolescentes afetadas pelas consequências psicológicas da epidemia de COVID-19.
As medidas sugeridas por pediatras chineses aos pais e familiares incluíram aumentar a comunicação com as crianças para lidar com seus medos e preocupações, jogar jogos colaborativos para aliviar a solidão, estimular atividades que promovam a atividade física e usar a musicoterapia na forma de canto para reduzir a preocupação, medo e stress que a criança possa sentir.
Todas essas medidas têm como objetivo apoiar a criança para superar esse momento difícil.
A Crescer com Amigos apresenta um programa completo de intervenção precoce nas escolas de 1º e 2º ciclo. Desejamos estar presentes em muito mais escolas no nosso país. Especificamente, o programa de Intervenção Precoce da CCA usa projetos práticos criativos ao lado de atividades informais, jogos e tempo para conversar, cuja combinação cria laços de confiança, permite que a criança experimente realizações pessoais ao concretizar projetos e atingir objetivos e desenvolva a sua expressão emocional. O tempo e a atenção individual ajudam as crianças a aprender e a melhorar o seu comportamento, a recuperar as aprendizagens perdidas, tudo isto enquanto se divertem de uma forma que liberta o stress e aumenta a sua capacidade de resiliência. Todos os elementos do nosso programa são planeados e elaborados de modo a ajudar a criança a lidar com as suas emoções e comportamentos, fazer melhores escolhas e lidando com o que quer que esteja a dificultar o seu processo educativo e a impedi-la de atingir o seu pleno potencial.
Através de um coach voluntário, que passa uma hora por semana na escola com uma criança (pelo menos durante um ano), vimos vários exemplos em que esse coaching teve um impacto dramático na vida de uma criança. Além do tempo gasto com a criança, os nossos coaches também desenvolvem relacionamentos com as famílias, que podem precisar de mais apoio. Se todo este trabalho de coaching na área emocional, comportamental e social já fazia todo o sentido, nos momentos de pandemia e pós pandemia que atravessamos torna-se fundamental e muitíssimo valioso.
Queremos levar Esperança e um Futuro a muito mais crianças que estão fragilizadas e que necessitam do nosso apoio.
- Marisa Moreira Bossa